A cidade equívoco

O Ípsilon traz uma reportagem que relata a vinda a Coimbra de uma jornalista da capital, para aferir a dinâmica cultural da cidade. Chegou-lhes aos ouvidos que em Coimbra no pasa nada. E que quando passa, os media não dizem nada. Vai daí, vieram ver. Obrigado, porque isso desmonta logo a segunda ideia. Já tinha lido uma coisa semelhante há dois ou três anos. E, se a memória não me falha, outra em 2004. A repetição é boa. Se passaram tantos anos a dizer que a Universidade de Aveiro é O exemplo da inovação e da criatividade na região centro, então deve ser porque o é. Os clichés nascem assim. Nos jornais ou na televisão. Coimbra tem dois clichés culturais: não se passar nada e ser a cidade do rock. Tenho pouca paciência para os dois.

Vêm cá os Monólogos da Vagina uma vez por ano e esgota-se tudo. O La Feria idem aspas. Há ranchos na baixa três vezes no Verão para desespero dos dealers e dos sem-abrigo. Há instalações onde só vai quem cria e organiza. Há teatro para duas pessoas e Brecht em doses cosmopolitas.  Há poesia sonora e experimentação qb. Há fados e tunas e gajos a tocar nus. Aqui acontecem imensas coisas. Se a cidade crescesse e a oferta se mantivesse, aí teríamos um problema. Agora não temos. Lá por termos prédios novos, não quer dizer que sejamos mais. Não somos.

Mas há gente que se queixa imenso nos media. E continua, ano após ano, a queixar-se. E a queixar-se. Da falta de apoios. Da falta de público. Da falta de dinâmica. Da falta de espaços. E isto pega-se. E queixam-se do bolor e do cinzentismo e da dinâmica das cidades vizinhas, para onde eles infelizmente não foram.

É claro que gostaríamos de ter uma câmara diferente, um público diferente, uma baixa cheia de gente à noite, uma mega-sala para virem excursões ver a Aida. E é realmente pena que algumas dessas coisas não mudem. Mas, mais do que isso, é pena que algumas pessoas não mudem.

Isto lembra-me a história do estádio de Leiria. E do de Aveiro. E do de Faro. E do… ai não, que vêm cá os U2. Size matters. E a atitude se calhar também.